Com a insistência das rádios portuguesas em passar êxitos internacionais do tempo da Maria Cachucha, é natural que a nova música portuguesa, por muita qualidade que possa ter, está à partida praticamente condenada a uma travessia pelo deserto.
Curiosamente, existem alguns grupos portugueses cujo mérito é reconhecido além fronteiras e que contrariaram a tendência de que o que se faz em
Portugal é mau. Temos muitos exemplos no género da
world music, mas da área do
pop, sobretudo cantado em português, é muito raro ou mesmo inexistente até terem aparecido os
Mesa.
Os
Mesa formaram-se em 2000 e três anos depois lançaram o seu primeiro trabalho de originais com título homónimo. Embora não se reflectisse num “boom” de vendas, em
Portugal o seu talento foi reconhecido pelo público com um
Globo de Ouro da
SIC, na categoria de Melhor Grupo do Ano, e pela
Antena 3, que considerou o álbum o Melhor Disco de 2003.
Mas os sons dos
Mesa foram mais longe e chegaram aos ouvidos de
Emmanuel Legrand, nem mais nem menos que o editor-chefe da revista
Billboard, que classificou o álbum em nono lugar nas suas preferências de 2004, em conjunto com o álbum
Cinema de
Rodrigo Leão, classificado em segundo na lista.
As músicas e letras do álbum de estreia eram maioritariamente da responsabilidade do líder do grupo,
João Pedro Coimbra, e teve reedição que contou com a colaboração vocal de
Rui Reininho no tema
Luz Vaga e à qual acrescentaram três novos temas, contabilizando no total umas escassas 5 mil cópias vendidas.
Em 2005 os
Mesa voltaram ao estúdio para nos trazer uma
Vitamina de 11 temas, em
Arrefece, o primeiro single, teve uma excelente aceitação nas rádios, tal como
Vício de Ti, o segundo single, que é literalmente viciante.
Nesta
Vitamina a voz sensual de
Mónica Ferraz passa a aliar-se a uma componente mais electrónica, que não era tão notória no primeiro álbum. Com um treino inicial do
jazz é com bastante facilidade com que
Mónica Ferraz consegue transformar a voz de tema para tema, criando um álbum bastante heterogéneo, que vai acompanha desde o ritmo melancólico ao mais frenético, traçando uma nova linha para a pop portuguesa no início desta década.
É notória em
Vitamina a tentativa do grupo portuense se distanciar do anterior registo, assinalando uma consciência de que este novo trabalho estava a ser aguardado com alguma expectativa pela crítica. E ao que parece não decepcionaram.
Além dos dois singles já editados o meu destaque vai para
Nova Calma e
Deixa Cair o Inverno. Saliente-se a excelente produção musical deste álbum, bastante vísivel por exemplo no tema
Vitamina, e facto de existirem algumas semelhanças rítmicas com os
Clã nos temas
Tele-Chuva e
Dó Nut.
Mesa – Vitamina [2005]
(Nota: 8/10)1. Fado Lunar (****)
2. Arrefece (*****)
3. Tele-Chuva (***)
4. Dó Nut (***)
5. Nova Calma (****)
6. Lobo ao Luar (***)
7. Vício de Ti (*****)
8. Vitamina (****)
9. Deixa Cair o Inverno (****)
10. En Garde (***)
11. Soro da Verdade (***)
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Publicada porLuy
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