E porque somos poucos…



Apetece-me falar de Portugal, este país localizado na cauda Europa. Ou será na cabeça? Bem, suponho que isso depende dos olhos do observador e do facto da sua visão da "coisa" ser pessimista ou optimista. Ou isso nem tem nada a ver.
Enfim... continuando...
Isto de se viver num país pequeno, de apenas 10 milhões de habitantes, com uma costa atlântica invejada pelos países do norte da Europa e com um sol radiante quase todo o ano, oferece-nos muitas vantagens. No entanto, essas potencialidades estão por aí, à espera de chegarem às mãos certas.
Mas eu vou adiantar as coisas, dando sugestões de alguns pontos que provam a vantagem que é, por exemplo, vivermos num país com poucos habitantes. Factor que não está a ser aproveitado como uma mais valia.
Vejamos:

- Emprego –este não devia ser um problema no nosso país. Comparativamente aos nossos vizinhos espanhóis, que têm mais habitantes, nós temos menos gente para empregar e o emprego devia ser algo fácil de alcançar. Além disso, não é necessário gastar dinheiro em anúncios para publicitar vagas para emprego. Todos nós temos um amigo, ou um amigo do nosso do amigo, que precisa. Sobretudo esta é uma boa forma de fazer amigos ou, em última instância, de ganhar afilhados.

– Amnésia ou alzheimer – são problemas que podem perturbar a vida de qualquer um, mas neste país não é um drama. Como os portugueses gostam de se meter na vida uns dos outros, as vidas das vítimas de amnésia ou da doença de alzheimer nunca são esquecidas e estão sempre salvaguardadas na memória de outros. Os doentes podem facilmente recorrer aos vizinhos para lhe fazerem a recapitulação da sua vida, coisa que estes farão com grande agrado. É claro que irão acrescentar um ponto aqui, outro ali, mas o que interessa isso, se logo a seguir é tudo esquecido? Nunca sentiram necessidade de sofrer de alzheimer? Era uma boa desculpa para sabermos até que ponto os outros sabem da nossa vida.

- Fama – temos quatro televisões generalistas, tirando a :2 (RTP 2). Ora, isso significa que dividindo a população por cada canal dá 3,33333… milhões para cada. Isto, já para não falar na divisão pelas SIC Radical, Notícias e afins. Nesse caso, os 15 minutos de fama referidos por Andy Warhol, fazem muito mais sentido em Portugal que noutro país qualquer. Para além disso, no estrangeiro as pessoas tendem a continuar a circular quando vêem um repórter na rua, ao passo que os portugueses, sempre educados e atenciosos, circundam o repórter à espera da oportunidade de serem entrevistados. Mas quando começam a aperceber-se que o vento não lhes é favorável, logo pegam no telemóvel e ligam para os amigos, mesmo frente às câmaras. Desconfio que o fazem para falarem mal do repórter.

- Música – com tantos programas que buscam novos talentos neste Portugal musical, em que todos esperam uma oportunidade de dar música, não sei como ainda não fui descoberto! Mas cheguei à conclusão que tal é compreensível. Na realidade, a minha voz só afina quando estou no banho. Aliás, como a maior parte dos participantes desses programas, que afirmam que lá em casa cantam sempre melhor e todos da família aplaudem. Mas, mais uma vez, como somos poucos, qualquer um pode mostrar o rouxinol (ou a hiena) que há em si para todo o país.

- Política – vou terminar com este ponto. Vocês estarão a pensar “vai a meter-se com merdas”. E sabem? Têm razão. O melhor é mesmo ficar por aqui hoje. E “para bom entendedor meia palavra basta”. Mas prometo fazer merda noutro dia… (lol)

E não se esqueçam de aproveitar estas potencialidades de sermos poucos.

XuaC

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Publicada porLuy  

2 comentários:

Anónimo disse... 28/01/05, 13:42  

lol

Realmente só o menino para ter tanta lábia...

Você, um autêntico 'atention-seeker', a dizer palavras tão belas e cheias de 'prêncipios', o maior problema do homem é não ser coerente e levar 'por tabela' as consequências... e quem nunca foi incoerente que atire a primeira pedra 8-/

Gostei de ler, continua 'partener';)

*Xuac*

DMA Produções disse... 29/01/05, 13:00  

PORTUGAL

Portugal
Eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir
como se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os
infiéis ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe
atacava os órgãos genitais
e nunca mais voltasse
Quase chego a pensar que é tudo mentira, que o Infante
D. Henrique foi uma invenção do Walt
Disney
e o Nuno Álvares Pereira uma reles imitação do
Príncipe Valente
Portugal
Não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino
nacional
(que os meus egrégios avós me perdoem)
Ontem estive a jogar póker com o velho do Restelo
Anda na consulta do Júlio de Matos
Deram-lhe uns electro-choques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos
espera um futuro de rosas
Portugal
Um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se
contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um
resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr encon-
trar uma pétala que fosse
das rosas que Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
Se tivesse dinheiro comprava um Império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
Estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e
idiota como tu
mas que tem o coração doce ainda mais doce, que os
pastéis de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros para poder espremer
à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em mil novecentos e cinquenta e sete, Salazar
estava no poder, nada de ressentimentos
O meu irmão esteve na guerra, tenho amigos que
emigraram, nada de ressentimentos
Um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal depois de ter salvo inúmeras vezes os Lusíadas
a nado na piscina municipal de Braga
ia propôr-te um projecto eminentemente nacional
Que fossemos todos a Ceuta à procura do olho que
Camões lá deixou
Portugal
Sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os da minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente
na boca


Jorge de Sousa Braga

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