A época do descartável




Estamos a viver tempos do descartável, uma época em que o interesse se desvanece em menos de nada e a palavra velho é abominada. A sociedade está a aproximar-se da imaginada (ou direi antes prevista) por Huxley no seu Admirável Mundo Novo e o que há umas semanas era moda, é hoje blasfémia.

O que significa esta mudança? O que a está a provocar? Para onde ela nos caminha?

Existem vários exemplos portugueses, basta recuar uns meses. Há uns tempos atrás a euforia centrava-se, por exemplo, no revolucionário O Homem Que Mordeu O Cão, foi uma sensação a nível de audiências radiofónicas e de vendas de livros. Hoje, apesar de o projecto ainda continuar activo, já a euforia o abandonou. Porquê? Porque já foi descoberto a nova revolução: O Gato Fedorento!!! Milhares de DVD’s vendidos, piadas na boca de toda a gente, campanhas publicitárias, enfim, uma injecção de dinheiro muito significativa. Uma das questões é: quanto mais tempo durará este projecto? Não me parece que muito mais tempo...

Acredito que ambos os projectos mencionados possuem as suas qualidades e, de certa forma, mereceram todo o sucesso que receberam nos respectivos tempos áureos e nem é isso que está aqui posto em causa. Este tipo de humor provocou o aparecimento de muitos outros de qualidade evidentemente inferior e são algo forçados, são simplesmente manobras para explorar e aproveitar ao máximo a onda criada pelos originais... o dinheiro suga!

O que eu gostava de compreender era por que razão a sociedade em geral não se apercebe que o que é bom, é-o sempre. A qualidade e o génio são intemporais e, por isso mesmo, mantêm-se presentes, não são descartáveis. O instinto humano leva-nos a procurar coisas novas, nós simplesmente somos incapazes de nos acomodarmos e por isso esta busca sem fim nos trás muito lixo também, a evolução é um risco que é necessário correr, mas o problema que sinto é que as pessoas estão a esquecer (ou são influenciasdas nesse sentido, mas isso já é outra história), estão a esquecer e a reciclar cada vez mais rapidamente a qualidade e o génio e isso pode ser o início de uma sociedade vazia.

Há que lutar contra a maré nesta luta impossível...

*Xuac*

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Publicada porAnónimo  

3 comentários:

Anónimo disse... 28/01/05, 13:47  

Sim, isso faz parte do tal risco necessário que falei, o problema que vejo é que a sociedade em geral está igualmente a esquecer os valores seguros, o génio, o original são esquecidos tal como todo o lixo que vem atrás.

Era nesse sentido que falava.

Xuac :D

Luy disse... 28/01/05, 14:29  

Julgo, e há algumas constatações sobre isso feita por investigadores, que essa "época do descartável", a que te referes, vem dos anos 80.
A cultura pop, que deus os primeiros passos uns anos antes, consolidou-se efectivamente na década de 80.
Neste momento, estamos simplesmente a alimentar a máquina, à medida que lhe vamos dando mais aceleração.
Sobre essa matéria há um livro muito interessante de um sociólogo chamado Gilles Lipovetsky, que se chama o “Império do Efémero”, que é dos anos 90.
Xuac

Anónimo disse... 28/01/05, 16:20  

Yeps, esta cultura surgiu nos (loucos) anos 80 e, como dizes e bem, é um processo que está a acelerar muito, de dia para dia e isso é que é preocupante pois o meio-termo está-se a perder e podemos muito bem já ter ultrapassado o ponto de não-retorno.

Acho que é isso,

Xuac

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